Somos Nós: António Curado

O Mundo ficou virado do avesso! E também todo o nosso pequeno mundo.

As rotinas, as dinâmicas, os horários, os espaços, as preocupações, os contactos, os relacionamentos, tudo mudou num ápice, sem o nosso controle.

Cá em casa há quem tenha ficado, pelas circunstâncias, em completo recolhimento. Eu também fiquei confinado, ainda que não a apenas a casa. Passei a movimentar-me apenas entre 3 espaços: o Hospital, o supermercado e a casa, que formaram um triângulo desigual. Essa nova geometria deixou de contemplar o desporto, a casa dos familiares, o jantar de amigos, as salas de espetáculos, os museus, as viagens, os restaurantes.

Que mudança!

Por dever de ofício, nunca deixei de trabalhar. O Hospital, como espaço único de trabalho, (dado que a clínica extra-hospitalar parou, de todo) ganhou outra dimensão, outras condicionantes, uma dinâmica bem diferente, que passou a ser de constante preocupação, de entrega, de disponibilidade, mas também de esvaziamento de muitas das tarefas clínicas habituais. Os passos profissionais passaram a ser mais medidos, tolhidos, direcionados para um quase um monopólio duma doença: a COVID-19. Uma doença presente mesmo quando ausente, uma ameaça constante.

Mas o tempo em casa também foi diferente, mais fechado. Com isso ganharam espaço o jardim, as flores, os recantos da cave, as bicicletas, a culinária, as leituras. E até os discos de vinil saíram, como que por magia, das capas empoeiradas pelo tempo.

Confinados. Todos. De uma forma ou de outra. Condicionados. À porta, a olhar os muros. À espera de outros horizontes.

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