Somos Nós: Sandra Roda

Podia ter sido à janela mas não foi. Quis-me mostrar de corpo inteiro envergando a máscara a que há muito nos habituamos a usar. A segunda pele que nos protege do frio e da vergonha. As vestes não são mais do que isso, não são na sua essência uma afirmação de personalidade mas de comportamento social. Servem apenas para esconder o que ainda nos resta de natureza. Mais trapo menos trapo, mais um não faz diferença. Após isolamento social saí à rua, esta agora , mais animada de gentes de trapo posto na boca. Não reconheci ninguém, não me esforcei sequer por o fazer e do outro lado deu-se o mesmo comportamento. Afinal parece fácil, já não temos que esboçar sorrisos de conveniência nem lembrar nomes, este trapo tapa o restinho de corpo que nos dava sentido enquanto espécie comunicante e social. A ver se não nos habituamos demasiado a isto.

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